23 Junho de 2023
Por Benvindo Neves
Este sábado, 24, é dia de Sonjon! Dia de repiká tambor! Dia de Kolá nes Pik! Dia de saltá lumnara! Mas, nem todo o rebuliço deste sábado vai ser por causa do santo pregador itinerante. Até porque de tanto txoldar ao longo deste mês de junho, amanhã o coitado já deverá estar bastante exausto.
Amanhã é, também, dia de futebol! Dia da primeira mão das meias finais do Campeonato Nacional de Futebol. A festa (da bola) vai passar pelos estádios Adérito Sena, em São Vicente, e Marcelo Leitão, no Sal.
Entre as quatro equipas em prova, duas – Mindelense e Académica - sabem o que é ser campeão de Cabo Verde. As outras duas – Palmeira e Vulcânico – perseguem o sonho de levantarem um troféu nacional pela primeira vez.
A coisa promete. Os dois clubes de São Vicente decerto desejam encontrar-se na final. Para isso, terão de eliminar Palmeira e Vulcânico. Estes, por seu lado, sabem que as probabilidades de serem campeões e entrarem para a “galeria dos notáveis” aumentam exponencialmente se os dois “tubarões” do Mindelo ficarem pelo caminho.
Adivinha-se luta rija numa espécie de reunião de condomínio. O problema é que esses condóminos não são meros inquilinos a conviver no mesmo prédio. Eles partilham laços estreitos, e isso pode ser difícil de gerir. Ninguém quer dar mole, mas também é preciso cuidado para não ferir o kómpas.
Pois bem, no jogo entre Palmeira e Mindelense vão estar em confronto dois treinadores amigos. Mais que amigos, compadres. Mas compadres de verdade e não de figuras de estilo.
Na intimidade das suas conversas logo quando saiu o sorteio, Toca Leite e Miki Medina devem ter tido um diálogo mais ou menos parecido com isto:
Miki: “Poooxa, kumpad, kasta de brinkadera é ess k sorteio já faze nôs, pá! Era pa es incontre ser na final, caramba."
Toca: Ê dvera, kumpad. Na final é ke seria um kosa bnit. Ma deskontra, quem fká iliminód ta pagá um kosa pa kompô boka margose"
De repente, Toca lembra-se de Rui Leite e interrompe. “Naaa, xperá! i nha prim Rui go? Poxa ta ser bnit tambê se mim ma ele inkontrá na final. Kosa ta fka la mez na família, bro.”
Miki: "K’es grasa bocê te fká, kumpad" – retorquiu o treinador do Mindelense enquanto os dois compadres soltam umas gargalhadas
Bem, Imaginações à parte
No outro jogo das meias-finais entre Académica do Mindelo e Vulcânico, há também um reencontro especial. Rui Leite foi treinador de Victor Touré, no Mindelense. Logo, esse duelo entre são-vicentinos e foguenses junta mestre e aluno de outrora. Rui já lembrou, na antevisão, que Victor era “muito bom jogador” e que foi ele quem o levou para São Vicente.
Victor, por seu lado, expressou sem rodeios que preferiria ter de defrontar o Mindelense, sua antiga equipa, de quem guarda muitas boas recordações.
E dou comigo a imaginar um outro diálogo logo após o sorteio:
Victor: “Mister, diskulpan… mim go um ta kria pa du panhaba Mindelense. A nho djan konxê, parsen ma ku Mindelense sem nhô na komandu du ta teneba mas xaense”
Rui: “kalma rapaz, ma mim inda bo ta prendê mas uns kusinha lá lód a lód la na bónk.”
Victor: “ago é pa tumá kuidadu pa burkan ka ngulí Monte Cara”.
Imaginações à parte, novamente
A reunião de condomínio deste sábado, dia de SonJon, promete ser mesmo reveltiód, sobretudo lá dentro dos tapetes. Junto dos bancos, não creio. Toca Leite é correto demais, Miki Medina também não é para grandes espalhafatos com os árbitros e adversários.
Victor Touré el ê koitadu, ningén ka ta mexê kuel, é mansu i sta-m ma nem ka di kes arguém ki gosta konfusau.
Fica a faltar Rui Leite. Bem, todos sabemos que ele gosta de uma boa rbika, sobretudo se houver pelo meio algum lance duvidoso. Mas não passa disso.
No fim de tudo, é provável que todos tranquem a porta do condomínio e vão até ali no boteco mais perto tomar um gole e brindar à saúde dos compadres e dos primos. Afinal, como diria Heavy H, nôs tudo nos é família.
Programação