Crónica Jogo d'Palavra. O Boi continua a ser mordido...e ainda não se levantou! Mas nem tudo é briga entre vermelhos

03 Maio de 2023

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Por: Benvindo Neves

O duelo entre encarnados das cidades da Praia e do Mindelo era o mais esperado da segunda jornada do Campeonato Nacional de Futebol. Por várias razões, desde logo porque se esperou mais de 30 (!) anos para se poder ver um confronto entre duas das equipas com maior massa adepta do País.

O Estádio Nacional foi a arena para “boi” e “leão”, ambos encarnados, se digladiarem. Bem, já se sabe que o boi se irrita (ou se excita) com o encarnado. Eis a razão para o toureiro mostrar o pano vermelho ao touro. Como jogava em casa, o “boi” de Santiago Sul lá se vestiu à tradicional, deixando o alternativo para o leão. Este, apresentou-se de branco (cor da paz), embora com discretas riscas encarnadas. Talvez por isso, a peleja foi tranquila, boi não se enfureceu, leão também não, então, em termos de fair play, tudo foi "dentu nota", diria Tikai.

Num estádio onde já jogou muitas vezes ao serviço da Seleção Nacional, Calú foi o abono de família na vitória do Mindelense diante dos Travadores. E dedicou golo precisamente à sua família.
Com aquele livre direto, o antigo médio dos Tubarões Azuis deixou todo o mundo rendido. Tanto Miki Medina, do Mindelense, como Janito Carvalho, dos Travadores elogiaram publicamente a qualidade da execução.

Depois do apito final, Calú deixou o campo daquele jeito molengão, com semblante de quem tinha dor. Mas, na verdade, foi ele o responsável por intensificar as dores-de-cabeça dos Travadores neste campeonato.
Os campeões de Santiago Sul continuam de cócoras (fazendo lembrar a posição típica que Janito usa para acompanhar os jogos da sua equipa), sem poder levantar-se. São duas derrotas! Das 12 equipas em prova, é a única que ainda não pontuou.

O Mindelense chegou a cidade da Praia com quase 300 minutos sem marcar um golo (0-0 com Derby na última jornada do Regional, 0-2 com Académica na final da Taça e 0-0 com Santo Crucifixo na 1ª jornada do CN). E foi em Monte Vaca que, às custas de um boi, aproveitou para matar a sede de golos. O confrade Xuster é que detecta estas ironias

O Mindelense jogou na capital do País mas, pelos lados da Ponta do Sol, no estádio João Serra, parece que os encarnados do Mindelo mandaram emissários disfarçados para observarem os adversários do mesmo grupo. É que, enquanto jogavam Santo Crucifixo e Juventude, nas bancadas alguém da claque, e que era o mais freblent na rapika pó, trajava a rigor com as cores do… Mindelense!

Santo Crucifixo levou a melhor sobre os campeões da Boa Vista, vencendo por 2-0. Os campeões de Santo Antão Norte não sofrem um golo em competições oficiais desde 05 Fevereiro, altura em que, para a 6ª jornada do Regional, venceram Foguetões por 2-1. São 10 jogos consecutivos sem que qualquer adversário acerte nas redes dos verdes de Coculi. Noutras paragens, certamente, já teriam ido à baliza de Vavá ver aonde estaria escondida aquela agulha (besnéria!).

No campo de São Lourenço houve cimeira de líderes à entrada para a segunda jornada. A Palmeira cedo pôs água na fervura dos foguenses com dois golpes de Latche.
Depois, os salenses meteram-se em banho-maria e quando deram conta, o vulca(o)nico já estava em erupção. Consequência: Palmeira saiu do Fogo com as mãos a abanar.
A turma encarnada de São Filipe é a única equipa neste Campeonato que ao fim de duas jornadas pode dar-se ao luxo de abrir o peito e, a plenos pulmões (como fez Déu ao festejar o golo da reviravolta), gabar-se de que tem os pontos todos.

Em São Nicolau, Belo Horizonte e Sanjoanenses encontraram-se decididos a afastar o fantasma das derrotas da primeira jornada. No fim, como que num acordo de solidariedade, dividiram os pontos para ninguém ficar liso no grupo B. Curiosamente, são duas equipas de comunidades afastadas das capitais dos seus municípios. Nessas comunidades talvez ainda predomine o mecanismo de "solidariedade mecânica", do sociólogo Émile Durkheim.

Mesma coisa aconteceu no Tarrafal de Santiago. Varandinha e Morabeza guardaram os trunfos para as últimas jogadas. Os bravenses, que para jogar em Santiago passaram uma semana fora de casa, regressam esta segunda-feira à Nova Sintra para matar saudades das suas gentes. E como encomenda levaram o conforto de uma liderança isolada do Grupo C.

No grupo C, precisamente, os campeões nacionais - Académica do Mindelo - fecharam a jornada conquistando os primeiros 3 pontos diante do Figueirense. Vitória de 2-1. O treinador dos campeões do Maio vai ter de continuar a sua caminhada até conseguir a primeira vitória de sempre da sua equipa no Campeonato Nacional.

Ao fim de duas jornadas já não há equipas sem marcar. Os 12 jogos já renderam 31 golos, o que dá uma simpática média de 2,5 golos por partida. Palmeira é quem tem mais, 5. Sunday, Latche e Tchukin são os melhores marcadores, com dois golos cada.

De todas as 12 equipas, Travadores é a única que ainda não pontuou. Os “índios” que no campeonato de Santiago Sul marcaram 57 golos e só sofreram 9 vão ter de encontrar a direção certa do campeonato nacional para poder dar alegria aos seus indefetíveis, e por agora sofridos, adeptos.

E para contornar a adversidade, os encarnados bem que precisam das preces do seu muito crente capitão Riky para afugentarem o mal e levantarem a moral numa competição em que já não participavam havia longos 20 anos.

Na próxima jornada, marcada para o fim-de-semana 13 e 14 de Maio, o “boi” tem o desafio de ir à Santo Antão Norte acabar com uns impressionantes “clean sheets ” do Santo Crucifixo. Se não conseguir, a cruz pode tornar-se demasiadamente pesada.